agosto 20, 2011

Paralisia de Bell e a minha mãe

Olá, camaradas. 

Quem me acompanha no twitter - que eu recentemente mudei o username de TheInfamousRen para Malefiicent - deve ter lido algo que eu postei sobre a minha mãe ter viajado para a Europa e passado Julho e Agosto lá. Senão, está sabendo agora: ela viajou. Simples e direto. Dia dezessete de julho ela pegou um lindo avião em Cumbica e foi para Roma, de lá foi para Milão, onde se encontrou com o noivo. Acho que antes de escrever essa postagem, eu preciso explicar algo. 

Sabe aquelas pessoas que se conhecem pela internet e dão certo? A minha mãe foi uma dessas. Ela conheceu o Antônio no chat do MSN ou algo do tipo há uns cinco anos e desde então se falam diariamente. Um dia ele veio ao Brasil - ele trabalha numa multi nacional, então - e eles combinaram de se encontrar. O Antônio é italiano, nascido e criado na Sicilia. Voltando, eles se encontraram e gostaram um do outro e começaram a se falar mais ainda. A cada quatro meses em vinha para o Brasil e ela passava uns dias com ele ou ele ficava lá em casa, quando eu ainda morava em SP, no Ipiranga, ou na Sta. Cruz - Sim, eu saia de casa para dar privacidade, se me entende - ou em Interlagos, antes de eu mudar para a minha Avó.

Entenderam? 

Em dois mil e nove a minha mãe foi pra Itália, ficar um mês com ele lá. E foi tudo bem, tudo dentro do normal. Logo ela voltou e ele continuou a vir aqui a cada três ou quatro meses. Ano passado ela saiu de São Paulo e veio para Itanhaém, onde comprou um terreno e construiu a casa em que nós moramos hoje. Não está completa, falta o jardim, a piscina, o piso da área da churrasqueira e a lavanderia, mas isso é coisa dos pedreiros que estão pouco se fodendo.

E continuou a rotina, ele vinha para cá três ou quatro vezes por ano, até que agora, em dois mil e onze, a minha mãe foi para lá. Ela viajou dia dezessete de julho e voltou ontem, dia dezenove e agosto. Eu sei que tem gente que  gosta muito quando os pais viajam, eu sei, eu também gosto, mas preciso confessar que após alguns dias eu fico meio... Instável, enfim.

A viagem seria: Roma > Milão, ficar dois dias lá antes de ir pra Portugal e ficar uma semana lá e aí ir pra Espanha, ficar dois dias voltar para Portugal, ficar uns dias voltar para Roma, gastar um tempo lá com o meu padrasto e passar os últimos dias da viagem em Milão. Parece bom, né? Eu sei que alguns estão com inveja e et, eu sei porque eu também fiquei. Eu adoraria visitar a Europa, mais pelo valor cultural que outra coisa, mas enfim, eu não estou noiva.

A viagem estava indo maravilhosa, a minha mãe estava em Portugal, na casa de uma amiga dela - que eu conheço desde o útero - e sempre esteve lá por ela. Até que isso aconteceu: mamãe acordou um dia e o seu rosto estava torto. Literalmente torto, meio similar a um dos quadros de Picasso. Claro que ela foi para o hospital no segundo seguinte. Claro também que ela pagou uma fortuna pela consulta e exames, mais precisamente, mil e poucos euros, sim, euros, que convertendo dá uns três mil reais. O que é bastante engraçado, já que eles vem aqui e usam e abusam do nosso sistema médico de graça. 

Mas quem sou eu para reclamar? 

O médico que a atendeu disse que ela estava com Paralisia de Bell. Saca só o prognóstico da titia Wiki: 

A paralisia de Bell é uma paralisia do nervo facial (nervo craniano VII) que resulta em inabilidade para controlar os músculos faciais no lado afetado. Várias condições podem causar uma paralisia facial, por exemplo, tumor cerebral, derrame e doença de Lyme. Porém, se nenhuma causa específica pode ser identificada, a condição é conhecida como paralisia de Bell. (...)

E se não fosse ruim o bastante, num dos exames fodidamente caros, ela descobriu um tumor no cérebro.  O tumor, aparentemente, não está causando a paralisia, por isso é a de Bell e o maldito também não está interferindo nada na vida dela. Se vocês abrirem o link da Wikipedia e olharem a foto do cara lá, estarão olhando a um exemplo de como a minha mãe está. O rosto está torto, realmente torto. O olho direito está caído, a sobrencelha também. É difícil fechar a boca e ela sente dor o dia todo. Eu não estou falando isso para vocês ficarem com dó e comentarem algo como "Tadinha". Não, mano, não. A minha mãe não precisa da porra da pena e piedade de vocês. Então enfie essas  coisas na porra do cu, ok? 

Claro que isso me deixa chateada pra caralho, e agora mesmo tudo o que eu quero é chorar. Eu faço piadas? Claro, faço, eu brinco com ela assim como ela brinca com isso. Mas isso não quer dizer que não dá vontade de chorar às vezes, porque porra, dá, realmente dá. Principalmente quando a pessoa que foi a primeira a saber por você, não está nem aí. Obrigada, acho que nem posso te chamar de amiga agora... 

Quando eu fiquei sabendo do prognóstico, eu fiquei quieta, eu fiquei chocada. Eu comentei com poucas pessoas, a Jull e a Pri Beletato e aí o Danilo Barbosa, e aí a Van Bosso. Eu cheguei até a postar algo sobre no twitter e algumas pessoas vieram comentar, falando que se importam. No fim, obrigada, sério. Obrigada mesmo. Eu não quero pessoas que sintam pena dela, eu quero pessoas que se importem em saber se ela está bem. 

Mas, por incrível que pareça, uma das pessoas que, quase por obrigatoriedade, deveriam se importar, não estão nem aí. Quem é? Meu próprio irmão. Sangue do meu sangue, carne da minha carne. O meu irmão mais velho por quatro anos. Ele soube, sim, o que aconteceu com ela, claro e até se voluntariou a pegá-la em Cumbica - por causa do tanto de malas que ela trazia e etc -, mas no fim não fez nada. 

Quando eu digo nada, quero dizer realmente nada. Ele não ligou, não se importou saber se a sua própria mãe chegou, se estava bem, nada. Ele não se importa. Na hora de passar o fim de ano, ou carnaval, ou feriados, prolongados ou não, na casa de praia da mãe dele, ele se importa, né? Na hora de saber se ela está bem, se ela precisa de alguma coisa. Não, ele não se importa. 

Hoje nós acordamos cedo e arrumamos algumas coisas aqui em casa, e lá pelas nove horas fomos ao Extra lá do centro de Itanhaém. Ela foi de cabelo solto e óculos escuros bem grande, assim ninguém veria o rosto dela. Sabe por que? Porque ela se sente feia. Ela pode até rir e parecer alegre, mas eu pude ver que ela estava se sentindo mal ali. Algumas pessoas encaravam e tudo o que eu queria fazer era socar cada uma delas até cérebro tingir tudo. Engraçado uma mulher com o rosto torto, né?

Quero ver o que você faria se fosse com a sua mãe. 

Agora são três e cinquenta e quatro da tarde e ela está no sofá aqui do lado, dormindo, e eu não consigo parar de chorar enquanto escrevo isso. Essa é a verdade: não tem nada pior no mundo do que ver a sua mãe assim. Eu realmente não desejo isso para ninguém. Às vezes ela me irrita? Sim, como toda mãe. Ela é perfeita? Porra, não, mas ela é a minha mãe. 

E como eu posso ver, só minha mãe porque o meu irmão esqueceu que tem uma. Ela está arrasada com isso, com o meu irmão, que ficou dentro dela por malditos oito meses estar agindo assim, quando ela mais precisa dele. Nós estamos decepcionadas e eu vos digo, camaradas, decepção é uma vadia.